domingo, 18 de dezembro de 2011

Prenda para Sofia...


Depois de estar com Ele, não posso ficar calada
Escuta o que te digo, sou Maria assinalada!
Trago no ventre um menino que vai nascer rosadinho
Viver com amor da gente e guiar-nos o caminho

Quero fazer-lhe uma manta, para que fique quentinho
Porque a gente é quem manda, na ternura e no carinho
Uma canção de embalar, ou um fado genuíno
Com guitarras a tocar as penas do seu destino

Versos simples... inocentes
Aqui deixo minha gente
É fado menino, para cantar em família
Minha prenda para Sofia...
Com José e Maria!







imagem: Kelly rae roberts aqui
 
Com carinho
Mz

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Acorda...



Alguém me soprou ao ouvido e disse-me baixinho que o Menino é só para enfeitar, está para ali esquecido... Shiuuu...
Entretanto, sentado numa cadeira de austeridade, Gaspar*, de voz mansa e arrastada, mete a mão no nosso bolso e corta-nos pacotes de felicidade. E para nós, tudo o que é mais, é apenas  menos. Acordem o menino! Um sopro natalício disse-me que só assim o tempo será de luz mesmo que as nuvens carreguem os dias de chumbo e cinza. A esperança tem de ser reinventada e a fé, renovada. Que se lixem os enfeites de rua este Natal... Acordem o menino, o vosso menino!





Se por acaso és de outro país ou planeta...
*Gaspar era suposto ser um Rei Mago com oferendas para o Menino, mas neste texto é apenas o Ministro das Finanças que nos oferece pacotes de austeridade.




Escultura de Étienne-Maurice Falconé



Com carinho
Mz

domingo, 4 de dezembro de 2011

Carícias Indiferentes...


Registos de voz escrita, que largo de mim assim...
Pensamentos em jeito de carícias que queria também que  sentisses comigo. Passam-te ao lado porque não tens tempo. Assim, corro riscos ridículos por me deixares pendurada com os meus registos para ti, indiferentes. Para que escrevo eu afinal... Para que escrevo eu, se preferes   o físico e o palpável, ainda que gostes de mimo e tenhas muito carinho para me dar. Negas. Negas sempre, mas eu sei que preferes muito mais as palavras na hora, penduradas no éter dos sentidos. Preferes o olhar rápido aos saltos dos meus sapatos, o cheiro estendido do meu cabelo, o meu sorriso espontâneo do momento. Adoras as palavras ditas. Historiazitas contadas dos jornais diários a par das vidas dos amigos e família e as nossas... As da nossa vida. É mais fácil falar, contar e ouvir, as vozes. Peço, lê o que escrevo. Lê com tudo o resto. Tudo misturado com o físico, o respeito e o amor. Esforça-te. Não fiques indiferente e arranja tempo para o meu registo, escrita de carícia que tenho para ti.


À partida, todos os registos são cansativos. É trabalho metódico, soam a obrigatoriedade, saem do espontâneo. Exigem reflexão e carecem de tempo. Os do coração, passados para a escrita correm riscos ridículos, porque nem todas as pessoas têm a pachorra de parar para os ler, até mesmo as que nos amam de verdade.





Imagem: Galeria das Obras de:

Para: Fábrica de Letras
Tema - Indiferença


Com carinho
Mz





terça-feira, 22 de novembro de 2011

Corta...


Lá dentro, não existe lareira de lume a sério, apenas uma máquina escondida que lança a temperatura certa. Entro e saio da sala com a conversa. A noite, sem lua clara é breu e o frio dá-me chicotadas nas pernas que mostro por vaidade, tanto cachecol e golas altas que me abafam o pescoço mas as pernas geladas! Cá fora, aquecem-me pessoas boas, amigas... amigas. Conversa-se sobre este estado de compromisso geral, as justificações deste estado social. Discutimos a desdita que nos andou a bater à porta com pancadinhas suaves. Tenta-se encontrar quem empurrou o carrinho da desgraça e nos levou encosta a baixo sem travões. Acidentes de percurso democrático. Não aceitamos que nos cortem sonhos e agora os tecnocratas frios aparecem e vêem apenas coisas, parecem esquecer-se das pessoas. Eles escolhem palavras colossais para definir e justificar esforço. Degolam, cortam e cortam, actuam ferozes agressivos com ar sereno. A voz é lenta, monocórdica, enfadonha que até apetece esganá-los, abaná-los e chamar-lhes nomes feios. Não adianta... o frio continua a chicotear-me as pernas.Voltamos para dentro rindo-nos e expressando ideias de como serão eles com uma mulher... lentos e monocórdicos, ou tecnicamente correctos? Bahhhhhhh Corta!




Imagem: Galeria de obras de  Ernest Ludwig Kirchner
Com carinho
Mz

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Linhas Esborratadas...



A realidade do envelhecimento dos tecidos de que somos feitos assusta-nos...

Agora, tudo o que se me apresenta pequenino desfoca irritantemente. As letras... eu falo de letras propriamente ditas! As mais minúsculas. E insisto. As miudezas passam agora a ser comprometedoras e denunciadoras de uma incapacidade visual que me apanhou como uma rajada de vento. Não me choram os olhos, mas irrita... a sério! É oficial. Declaro que passei definitivamente ao grupo de charme do acessório mete e tira e tira e mete sempre que as letras se me apresentem como uma linha esborratada. Óculos para a ocasião. Não sei porque insistem tanto em o declarar como sendo o objecto mais intelectual que inventaram para o ser humano. Vaidades e ilusões que suavizam frustrações e incapacidades físicas de homens e mulheres. Não deixa de ser irónico e ridículo o medo de envelhecer saudável e naturalmente. Aceito. Aceito as duas. A insuficiência da visão e os contornos linguísticos que suavizam o aspecto exterior e até caem bem numa mulher madura e vaidosa. Aceito, mas existe o medo... Então, se eu fechar os olhos e fingir que sou cega, talvez me liberte deste medo de já não ver como antes.



Imagem: Galeria de Obras de: Robert De Niro Sr.

Com carinho
Mz

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Simplicidade de um Sonho...



Um dia sonhei ser maquinista de comboios.
Passava os dias a brincar com bocadinhos pequeninos de madeira maciça de formas toscas que encontrava pelo alpendre. Depois, quando já tinha a minha pista de comboios a sério, partilhei-a com os adultos e outros meninos meus amigos. Descobri que o prazer de partilhar era tão grande quanto o simples prazer de brincar. É uma pena que se tenha de crescer... e um dia, guardei a pista de comboios no sótão. Cresci e aprendi que os sonhos dão muito trabalho. Nunca cheguei a ser maquinista de comboios...

Hoje, cruzo os céus com alegria e responsabilidade. A partilha, essa, continua a ser um bem maior no meu dia a dia mas quando um menino me diz que quer visitar o cockpit do meu avião, são segundos de magia em que eu quase volto a ser a criança que queria ser maquinista de comboios.




Imagem: Desenhos para colorir
(Pesquisa google)

Tema: "Sonhos"


Com carinho
Mz

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Muros Brancos...


Tecida de grãos que cobrem os falecidos, é a manta cor de terra, se ainda houver cadáver.Não há sol. Não há chama tremeluzente que aqueça os corpos, nem as almas neste sempre místico dia dos mortos.

Como se estivessem encostadas aos muros brancos, colam-se as sombras das mulheres vestidas de escuro. Mulheres doídas. Mulheres de coração negro como as sombras da parede branca. São rectas paralelas  as sombras e os corpos vivos e os que já se foram, porque jamais se encontrarão. O infinito passa-lhes ao lado de invernosos pensamentos. O tempo mistura-se em cada folha que se junta a um turbilhão de mil folhas caducas enrolando-se em espirais que se atropelam com imagens de quem já se foi. O vento e a chuva, se aparecem, aumentam ainda mais as perdas e, no rosto das mulheres vestidas de escuro, vincam-se mais e mais as rugas da tristeza. 

E volto às sombras do muro branco que também eclipsam a cor das flores que as mulheres levam aos seus homens frios. Volto a esse muro de paredes brancas e às mulheres que o olham, tornando-os em espelhos baços escondendo realidades de noites inquietas, solitárias e mal dormidas.






imagem: pesquisa Google
(estátuas em cemitérios)
 
 
Com carinho
Mz

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Gula Reprimida...



Sem pudor em relatar a intimidade do meu sono, argumento aqui, o quanto a comida nos pode levar pelos caminhos do erotismo...
Mal acordei, culpei um pratinho de chamuças douradas que se adivinhavam deliciosamente crocantes. Não as provei, mas o seu aspecto, fez-me cobiçar o prato alheio num restaurante ao final da tarde de ontem. Por esta gula reprimida, passei a noite inteirinha a namoriscar um Indiano indefinido que me levou à tentação de cometer adultério de turbante. De olhos vendados por hipnos, sem cheiro nem sabor, apenas um embrulhado picante e impensável sonho erótico com um espécime que não aprecio de todo. A memória dos sentidos pregou-me assim esta partida e, acho que a partir de hoje, qualquer dentadinha numa chamuça  irá ter sempre uma ligação afrodisíaca que me fará beliscar a líbido.





Imagem: Óleo de Sylvia Ordonez



Com carinho
Mz

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Festa...



Mexem-se sem terem em conta o ritmo da música. São mulheres loiras, morenas, magras, gordas, altas e baixas. Umas de saia e blusa ou vestidos curtos, outras de calças e camisolas mais ou menos decotadas. Sandálias de salto alto ou rasas com tirinhas de vidrinhos encastrados, levantam-nas mais uns centímetros ou deixam-nas ao seu tamanho. Algumas, com jóias verdadeiras, outras, com bijutaria simples ou espalhafatosa ou apenas uma corrente de ouro com uma medalha protectora. Os enfeites e as unhas pintadas dão brilho até a quem já está um bocadinho baça... mas a mulher não desiste de si. A base no rosto e as pestanas alongadas permanecem, ao contrário do batom que se vai consumindo com os movimentos expressivos das bocas das mulheres. A festa, é especial. A mesa, de toalha bordada, os copos desencontrados de vários tamanhos, a loiça de porcelana já bastante gasta, mas genuína e  flores, muitas flores e muita cor naquela mesa vestida de branco e naquela sala. Muita conversa entremeada com a comida e muito riso e risinhos entre golinhos de vinho. As mulheres têm fama de faladoras. Falam de tudo e então, quando se juntam aos grupos, parecem galinhas aos olhos dos homens que as adoram, mas que têm sempre esta teimosia em as diminuírem. Galinhas de ouro! É assim que elas se revelam. Tal como uma foice, esta exclamação  uníssona, corta o bico do galo empertigado, sempre que algum se atreve a esta comparação. E então, vem a conversa e a luta em defender a tese. E serão talvez 500 palavras ditas pela mulher para 50 palavras ditas pelo homem. É sempre assim. A mulher terá sempre de se esforçar muito mais do que homem. Mas a mulher não desiste e arregaça as mangas e vai à luta com enfeites ou sem eles mas  convicta de que trará sempre um pequeno trunfo.





Galeria de pintura- Renoir

Com carinho
Mz

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Este Outono...



Quase me apetece apagar o sol por uns momentos e este estado social inquieto para sempre! Temos este calor fora do calendário a dar-nos uma impressão que fomos de férias na época errada parecendo que tudo o resto está fora de tempo e não é nosso. A crise, a política, os cortes, o orçamento, os buracos, as notícias... Tudo isto cansa, satura, é negativo. Até o sol! É como se o diabo estivesse a cozinhar debaixo da terra, por cima da Terra e de todos as bandas uma ementa que inflama e definha. Eu sinto-me levemente cansada e já peço um pouco de chuva ou nuvens verdadeiras que acalmem este calor e me traga o ciclo natural das estações. Ainda assim, quase me dá comichão na pele as roupas de Inverno já expostas nas montras das lojas que desesperam sem facturarem. Já muitos  sentem impaciência e austeridade tendo  a noção da realidade e, não há sol nem tempos estranhos que os iludam. Contudo, existem pessoas que ainda se deleitam com este Outono tórrido, fantasiando que ainda escorre leite e mel nas suas vidas.



Imagem pesquisa:Google


Com carinho
Mz 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um Portal...

Uma criança viaja e inventa lugares com as coisas mais simples que se pode imaginar...

Havia uma cristaleira antiga na sala de jantar da casa do meu avô. Um dos móveis deixados em herança pela minha avó falecida ainda muito jovem mas já com os quatro filhos que dera à luz em casa e, os únicos que o meu avô teve até ao fim dos seus dias. Eu deveria ter pouco mais de cinco anos e, através dessa cristaleira, durante muito tempo, fiz ali as minhas mais fascinantes viagens.  O meu Portal com vidrinhos pequeninos e madeira artisticamente talhada exibia um objecto que me punha os olhos vítreos.
Proibido mexer! Mas eu tocava às escondidas... e vivia pedaços de tempo sem pestanejar mergulhando os meus olhos castanhos num vestido vermelho muito cintado torneando um corpo cibernético que se alongava por uma cascata de folhinhos de renda sobrepostos,  vestindo uma bonequinha Sevilhana de cabelos muito negros amarrados por uma grande flor rubra de organza. Toda a informação que conseguia obter não me satisfazia e, os meus pais, prometiam-me uma viagem a Espanha que nunca mais se realizava. Enquanto isso, o meu Portal transportava-me e eu sonhava com um lugar onde as mulheres usavam vestidos espantosos, flores na cabeça e um leque que eu imitava com uma folha de papel em forma de concertina.


Imagem pesquisa google: Kelly rae roberts



Escrito para: Fábrica de Letras 
Tema: "Viagens" 


Com carinho
Mz

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pombos...


Alguns pombos... coitados!
Vi-os na Rua Augusta. Plumagem baça, rara, peladas no dorso e patinhas aleijadas. Borbotos de carne esponjosa a nascerem sem precisão... como tumores malignos salientes e encavalitados. Depenicam migalhas aos pés das mesas de esplanada. Enchem-se de gordura, açúcar e poluição. Coitados dos pombos de Lisboa!
Agitam os jornais para os espantarem, os homens que engolem o café e as pragas que lhes gostariam de dizer. Raio dos pombos! Coitados dos pombos, digo eu... que os  pombos da minha memória, não são assim! Os meus pombos, têm pombal caiado de branco e telha lusa que os abrigam. Comem o bago saído da terra, dourado ao sol e estendido na eira. Não os enxotam. Os homens da minha memória, dão-lhes de comer com carinho e, os arrulhos que soltam, são melodias em todas as tardes. Alguns, mensageiros pombos-correios... outros, apenas voam saudáveis e livres.




Fotografia "A Brasileira" - Chiado, Lisboa
Do blogue que muito aprecio, Diário de Lisboa AQUI 
  



Com carinho
Mz

domingo, 18 de setembro de 2011

Murmúrios de Fé...


São muitos os dias em que ponho em causa a minha formatação católica. Não tenho dúvida que, para além da carne do meu corpo e de todos os sentimentos, incluindo os bons e maus, dentro de mim, existe algo que vive de uma forma espontânea e me empurra sem obrigação. Acreditando em Deus e com dúvidas, eu vou. Será isto a força do Espírito Santo de que falam os entendidos? Não sou assídua porque me irritam alguns trâmites e leis injustas, pensamentos e preconceitos dos homens que O representam. Mas, devido a esta força que me empurra, vou sem olhar aos dias e misturo-me com aqueles que murmuram rezas de fé. Vou e também rezo e murmuro o principal apenas para mim e com Ele. O resto, é partilhado em voz alta a par com os outros que lá estão por razões que só eles sabem.




Galeria Fotográfica: Ansel Adams aqui

Com carinho
Mz

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Naquele Dia...



Não obstante o gosto e fascínio pelo meu trabalho e uma boa dose de paciência recentemente adquirida pelas férias de Agosto, eu teria entrado em colapso com a mesquinhez típica de um certo tipo de clientes armados ao pingarelho chocalhando pulseiras de ouro como rótulo de aviso – Somos Ricos! Naquele dia, passei a manhã mergulhada em medidas, texturas e cores. Revendo e reinventando o design mais apropriado para um específico conjunto de móveis feitos à medida pomposamente solicitado por este par de clientes excessivamente exigentes por caprichos ridículos e pirosos que eu ia disfarçando sem obter resultado.

Tudo isto me pareceu tão pequenino, quando depois de almoço o mundo pasmou indignado com o ataque mais inesperado ao WTC, vendo em  directo as terríveis imagens coladas a um formato cinematográfico sem duplos. Seria bom podermos passar uma esponja amnésica e simplesmente esquecer. Eu estava a lavar os dentes e a pensar na melhor forma de convencer os meus clientes anafados e reluzentes quando a primeira torre foi atingida. A lavar os dentes...

Muitas coisas perdem o sentido quando existem dias que, pela grandeza do horror que causam nos deixam incapazes de entender as razões da maldade humana a uma escala infinita.


(imagem pesquisa: Google)

Com carinho
Mz


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Velhas (e) Amigas...




Já que insistes em trazer-me algo, então traz-me um raminho de salsa fresca para enfeitar o almoço. Meia dúzia de limões para espremer em limonada e flores... um molho de flores, que podem ser do campo. Mistura-as com alecrim para perfumar a mesa que vou pôr lá fora ao sol. Traz-me também alegria e risos e conversa que poremos em dia. Depois, dulcificamos as bocas com Bolo de Cambraia, o mais fofo que eu sei fazer .  Talvez abra aquele Porto velho que nos irá deixar mais tontas e de língua mais solta para falarmos sem medo e sem disfarces do que nos apetecer. No final, eu levo-te a casa e tu voltas a trazer-me à minha e andaremos nisto até termos consciência de que cada uma tem de ficar sozinha na sua própria casa.

Mesmo que não tragas nada e não queiras falar, vem. Comeremos em silêncio a ouvir as conversas dos vizinhos, os pássaros e a nortada a sacudir as laranjeiras. Não te preocupes com o sol que eu tenho uma sombrinha antiga de cor azul com franjinhas brancas que vou espetar no pátio e, se o tempo mudar e as nuvens aparecem, sempre poderemos fingir ter um tecto de Verão. Mas vem... eu espero-te de avental.







Para a Fábrica de letras
Tema: “Fingimento”




Imagem: Tela de Inimá de Paula


Com carinho
Mz

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tudo Passa...



Hoje já não me zango contigo. Talvez apenas por momentos, mas depois passa. Tudo passa. Somos homens e mulheres diferentes e daí os amuos e as raivas, o encantamento e os abraços também.
Tudo passa... Passa o tempo, passa a vida mais cedo para uns do que para outros e, também nos zangamos com isso. Seria melhor uma vida a correr e, num instante, a idade, mais do que tudo, lembrar-nos que o fim se aproxima. Como um coto de vela muito usada quase sem pavio, um sopro que se apaga quando a vida já é frágil e os corpos têm de se despedir de outros corpos. Como um Verão que passa a Inverno sem nos recordarmos que tivemos um Outono pelo meio. Zangamo-nos mas aceita-se mais facilmente.
Tudo passa... A tristeza dos que ficam também vai passar, é como um luto que não é bem-vindo, mas é inevitável. Parece que a tristeza é contraditoriamente necessária, purga-nos do riso fácil e estúpido e, por vezes serve para nos lembrar como é bom alegrarmo-nos com as coisas verdadeiramente boas. Festejar a nossa vida, por exemplo.

Hoje, apenas me apetece dizer que Agosto não é tempo para ficar triste, nem doente e muito menos uma época para morrer às pressas. Parece que se enterra fruta madura.







Stone Roberts- Paintings & Drawings
Pesquisa Google



Com carinho
Mz

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Em memória...


Agora...

Solto

Leve

Intocável.

Não sei onde te encontrar

neste Céu que eu conheço

Azul,

Chumbo,

Negro.

Acabaram-se os teus voos.

Agora, que te tornaste cinza, um sopro de nada,

eu queria dar-te um abraço.

Eu queria, mas não sei como.





(Imagem: pesquisa google)

Cmdt M.F.
Vítima mortal -  acidente de moto, Agosto 2011
Descansa em Paz meu amigo

Com carinho
Mz







domingo, 14 de agosto de 2011

Fugas...


Gosto do sol nos dias de Verão e quero-o muito quando é Inverno. Ainda assim fujo dele. Gosto mas escolho muitas vezes a sombra. Não existe raiva ou zanga, apenas uma contrariedade reflectida ou um impulso inocente.Sou ponderada. Apenas me protejo quando me queima ou me puxa o suor ao rosto estragando-me o disfarce das rugas assim que me limpo a um lenço de papel. Sou prevenida. Fujo dele nas horas em que, estrela dissimulada a longo prazo me poderá trazer aquele cancro maldito. Sol. Vida. Alegria. Gosto. Mil sensações de prazer numa hora que na seguinte renego por consciência. Creio que estar ao sol é também como estar na vida. Vive-se num estado constante de fugas e aproximações onde pelo caminho cabem muitos verbos.





(Imagem: Google)

Escrito para a Fábrica de Letras
Tema: "Fugir"


Com carinho
Mz

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um presente no youtube...

Um presente...
O meu poema visto e ouvido como um filme.




A Pastelaria Estúdios surpreendeu-me em plenas férias com uma composição que valorizou um poema escrito e publicado por mim aqui.
Fora de estação pois estamos em pleno Verão e queremos sol, divertimento, boas energias...esta "Chuva" de Inverno com palavras molhadas e nostálgicas ganharam uma magia muito especial.

(Este trabalho foi publicado no blogue e no Youtube com a minha autorização)


Pastelaria Estúdios - The Digital Book Project... Obrigada!
Obrigada a todos os que me visitam, comentam, seguem!


Com carinho
Mz





Agradecimento...


Não podia deixar de exibir este Selo (Menção Honrosa) oferecido pela Eva Gonçalves minha colega blogger ao ter participado com este texto na sua rúbrica:
 "Diz-me como se chama o teu blogue dir-te-ei o que me apetecer".

Muito obrigada e até breve!
Boas férias.



Com carinho
Mz

domingo, 24 de julho de 2011

Férias!

Tags Maker is a Text Image Generator to write Messages, Comments or Tags on Pictures


Uma breve pausa para férias.
Virei espreitar-vos de vez em quando.
 Fiquem bem, até já!



 


Com carinho
Mz

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Viagens...



Durante anos enquanto criança, sempre que me falavam de uma grande viagem, assaltava-me o mar alto e grandes navios. Era inevitável. Cresci com relatos de histórias verídicas que o meu avô contava das suas idas ao Continente Americano.
Navios de gente que arrastavam dias e dias num mar imenso. Dias intermináveis que eu imaginava e fantasiava de uma forma fantástica. Para além do mar alto e dos grandes navios, esses tempos antigos fascinavam-me de uma forma romântica sustentada pelas fotografias amareladas que conseguiam anular qualquer sombra de pobreza. As malas eram o que me incomodava mais nas suas histórias. Como seria fazer uma mala em que a roupa se misturava com bacalhau, chouriços, presunto, tudo muito bem embrulhado em papel pardo e cordel. Ainda garrafas de azeite e vinho do porto muito bem protegidas com papel de jornal. Como seria abrir uma mala com todos estes cheiros, e ainda o cheiro da roupa que deveria estar impregnada de naftalina?
Confesso que me mete confusão todos esses cheiros dentro de uma mala, porque sou metódica com a minha mala de viagem e não suporto cheiro de comida na minha roupa.
Viajasse eu nesse tempo... e as esquisitices decerto que me passavam!



imagem: google





Com carinho
Mz





quinta-feira, 7 de julho de 2011

Segredo...



Gosto de ti.
Deveria guardar esta frase simples e o resto das palavras que aqui vou deixar. Deveria guardar tudo numa gaveta juntamente com toda a minha lista de desejos proibidos. Fechá-la à chave e, de seguida, atirá-la ao mar.

Gosto de ti. Fazes parte da minha lista de desejos proibidos e, sempre que vens ao encontro do meu pensamento, assinalo-te com flores na minha agenda. Tu não sabes. Ninguém sabe. É um segredo meu. Gosto de ti com ingenuidade e com lascívia. Gosto de ti para além de todos os prazeres carnais mesmo distante do corpo e da troca de beijos em que nos poderíamos tornar nascentes. Gosto de ti ao ponto de pecar em pensamento. E peco ainda mais, porque não tenho dúvida de como seria fácil de pecar em actos. Raros são os dias em que te tenho no pensamento, mesmo assim, não sei se és real ou apenas existes para eu me penitenciar.

Gosto de ti.



fotografia: Apereira

...
Para:  FÁBRICA DE LETRAS
Tema de Julho: "Segredo"



"Segredo" - apenas uma parte do texto originalmente escrito em 07.06.2010
Inspirado pela Fábrica de Letras quando um dos temas "Gosto de..." estava em votação entre outros, foi preterido em favor do tema "Estava Vazio" que alcançou o maior nº de votos.





Com carinho
Mz

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Por onde andas?



O ano passado, por esta altura, viram o "nosso" sem abrigo lá para os lados de Lisboa.

Descia a Graça desajeitado, andrajoso o desgraçado. No calor abafado, deixou-se dormir às portas de uma qualquer igreja e, de boné estendido na calçada, caíram moedas de cêntimos numa cadência monótona e de valor musical diminuto. Deixou-se dormir indiferente. Sem querer, colou-se o dia à noite. Ele gosta de igrejas, não é a primeira vez que toma de assalto a caixa das esmolas. Na descida, talvez lhe pesassem os bolsos de moedas, as do boné estendido e as destinadas aos santinhos. Talvez tivesse como destino, o Cais do Sodré. Gastá-las em tabaco e vinho, terá sido tarefa fácil. Não sei! Não sei se o quererão por lá. Se assim foi, talvez tivessem chamado a polícia ou tivessem zombado dele. Talvez tivesse levado uma tareia de outros... de outros malandros da noite. O mais certo é terem-se afastado dele, deixando-o a praguejar sozinho. Sim, talvez ainda hoje se afastem dele, do seu mau cheiro, do seu jeito louco e esquizofrénico.




imagem: pesquisa google - Aguarelas de Lisboa aqui


Com carinho
Mz

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sem pudor... (Incluindo a Banca da Cozinha)



Eu queria ver tudo. Tudo.
E tudo é sobre o homem que mora mesmo em frente a mim. São alguns metros que nos separam. Uns metros de janela e também de pensamento. Ai o pensamento, onde me leva o pensamento!

Tapado por uma esguelha de cimento, aposto que todo ele é nudez sem pejo para lá da argamassa. Azucrina-me quando prevarica da musculatura sem roupa, no estendal. Sacode a roupa e põe a mola, ligeiro. Provoca-me o vigor do tapete arremessando a poeira acumulada. É arrumadinho o Adónis! E eu, Vénus sem vergonha, imagino paredes de vidro que sugo de um só fôlego e não preciso de chave para entrar. E entro descarada e diáfana e, abusada. E vejo tudo... Tudo, incluindo a banca da cozinha onde sem pudor, lá está ele tal como eu imaginava. E vejo tudo...





Concurso de escrita criativa Including The Kitchen Sink

Blogue da Eva Gonçalves seguindo a rúbrica:
"Diz-me como se chama o teu blogue, dir-te-ei o que me apetecer"





imagem:Aguarela de João Barcelos


Com carinho
Mz

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quem de mim... (Stº António)



Na capela, lá no largo da aldeia, cumprimentam-se com beijinhos as raparigas. Falam de mim e de flores. Já não cheiram a feno nem a alfazema, os perfumes de hoje, são outros, sofisticados... Mas voltam, voltam sempre, solteiras mas não virgens até aposto! Perdoa-me Deus que o amor e o calor dos corpos é mais importante que a virgindade que o homem inventou e, o pecado, é outra coisa. A capela é delas, de todas as mulheres, de todos os sorrisos, inocentes ou picantes, solteiras ou casadas, novas ou velhas. A Capela é desta terra que em mim acredita e respeita. É dos rapazes de todas as idades, do pagão e do religioso. É dos que suportam o meu peso nas costas. Não me incomodam as procissões nem o lustro dado pelas raparigas, mesmo corado e empoleirado no andor. Gosto de arejar, gosto das colchas nas janelas e da banda a compasso. Sou António e sou do mundo. Fizeram-me Santo. Prolongam-me também por aqui e aqui estou, esculpido nos corações e no calcário coimbrão do séc. XV. Aqui sou tosco pesado e muito antigo. O homem escolhe como me quer ver... mesmo que só alguns me sintam. Quem de mim escreve, que escreva livre e solte o pensamento. Assim continuo vivo.


(Stº António, na minha aldeia)
Fotografia: Jfifas


Com carinho
Mz

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Machos... (Fábrica de Letras)




Olhem que se não fossem estes, os tempos em que eles até já se depilam por completo e se vestem com apontamentos de rosa e lilás, eu quase me atrevia a especular que quem sugere que “os problemas resolvem-se à chapada”, possa vir manifesta e exclusivamente de algum figurão do sexo masculino. Não fosse o caso, colocava a mulher definitivamente fora disto, salvaguardando aqui, apenas, aquelas de pêlo na venta que sempre existiram escondidinhas pelos recantos de castos lares, defendendo timidamente que umas chapadas, serão sempre o ideal para colocar a família no lugar, incluindo o macho mole que lhe faz os filhos. Ah, pois...

Mas, para dar mais sustentação à minha teoria, volto a frisar que não fossem os tempos já não serem como os de antigamente em que, bastavam duas cores apenas para definirem os sexos opostos, eu não especulava. Não especulava, apenas confirmava! E confirmava, baseada em algo que se inicia muito precoce e inocentemente.
Vejamos. Se recuarmos a uma infância em que os brinquedos e as brincadeiras seleccionavam grupos facilmente identificáveis, recordamos que as meninas eram delicadas e os meninos travessos por natureza. Se, no nosso núcleo familiar existissem rapazes, eles não se limitavam apenas a brincar. Não, não e não! Sabíamos perfeitamente que não descansavam enquanto não desmontassem os carrinhos ou um outro brinquedo mecânico. À primeira oportunidade, eram bem capazes de arrancar os membros das nossas bonecas rindo de satisfação. Seguindo estes factos, atrever-me-ia a dizer que o instinto de destruição no sexo masculino é visceral. Os brinquedos, são apenas a ponte, pois se por acaso perdem a jogar à bola ou a outro tipo de brincadeira, embulham-se e passam rapidamente para a chapada.

Por falar em bola, temos o exemplo do futebol que  cujas réplicas tenrinhas do sexo masculino de que falo, lá em cima, depois já em estado adulto, tão bem sustentam esta minha teoria. Atrevo-me pois a dizer que por vezes, e principalmente na idade adulta, umas quantas chapadas bem assentes só lhes fazia era muito bem!











imagem google: Surrealismo



Escrito em tom de brincadeira,
Para Fábrica de Letras
Tema de Junho:
“Os problemas resolvem-se à Chapada”



Com carinho
Mz

terça-feira, 31 de maio de 2011

Ainda o Sem Abrigo...



Já vos falei dele. De um sem abrigo em condomínio fechado. Durante meses, muitos meses, não me passou indiferente e, várias vezes me questionei como e porque foi inserido num lugar incompatível socialmente com a sua figura e forma de estar. De onde terá vindo. Pensei em todos os nomes para ele. E, surpreendeu-me não ter uma alcunha de rua, ou talvez tenha... Então é ele de seu nome, Feli... Um inadaptado da sociedade, sem abrigo e esquizofrénico adoptado por quem pensa ver um ser paralelo a Jesus Cristo, senão o próprio, dizem por aqui. Formato insano da religiosidade exacerbada, que em vez de bondade consciente pensa e age assim com esta... esta loucura. Loucura!

Já vos falei dele, sim aqui . Dois anos passados, continua sem se adaptar. Já não anda tão limpo e, a pessoa que o acolheu está quase tão louca como ele. A responsabilidade é grande. Esquece os medicamentos, bebe muito e vagueia sabe-se lá por onde. Depois de regresso, volta sujo, faz zaragatas durante a noite. Numa sociedade estruturada e cautelosa desconfia-se e temem-se os marginais, os aparentemente loucos e os verdadeiros loucos. Queremos segurança e uma cidadania responsável. Questiona-se o que se paga para usufruir de um espaço com certezas de alguma segurança. Sem piedade, também acusei, e não gostei que um louco meio andrajoso se misturasse com as crianças no jardim. Depois, habituei-me a ele. Tolerei e condenei-me também. E agora que está ainda mais degradado, finalmente falei com ele.

Apanhada desprevenida, hesitei, mas... Raios, é apenas uma pessoa  problemática e doente! Subserviente e cheio de tiques, prontificou-se a carregar o meu saco de garrafas vazias até ao ecoponto. Confiei e cedi. Apagou o cigarro que estava a meio e guardou-o na beira do muro para mais tarde o terminar até ao fim. Enquanto se estilhaçavam todas as garrafas em pedaços de vidro, trocámos algumas palavras. O essencial para me aperceber da esperteza da sobrevivência. Na sua aparente loucura, rápido na comunicação, rápido na tarefa, falou-me atabalhoadamente de contratos de trabalho, da remuneração à hora e, à sua maneira fez-se à moedinha  
 
 
imagem: google
 
 
 
Com carinho
Mz